Diálogo com terroristas em Cabo Delgado pode ser a solução - Ver Moçambique

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Diálogo com terroristas em Cabo Delgado pode ser a solução

 


Especialistas acreditam que anúncio do Presidente Nyusi sobre o nome por trás do grupo terrorista que actua em Cabo Delgado é um passo no combate ao fenómeno e recomendam abertura para um diálogo contido.

O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, mencionou na semana passada o nome de Ibn Omar como o líder do grupo de terroristas que protagonizam ataques armados na região norte do país. Não o fez pela primeira vez. No ano passado, Nyusi já tinha citado esse mesmo nome. E, antes disso, os Estados Unidos também já tinham identificado Ibn Omar como o responsável por acções de terrorismo em Moçambique.

Segundo Filipe Nyusi, o suposto líder dos terroristas é um cidadão moçambicano. E "Ibn Omar" é apenas um dos nomes pelos quais é conhecido.

João Feijó, investigador do Observatório do Meio Rural, diz que se trata de um indivíduo bastante conhecido na região de Cabo Delgado e que, inclusivamente, terá passado pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

"É natural de Palma, mas também já ouvi que é de Mocímboa [da Praia], não é propriamente consensual. Cresceu em Mocímboa [da Praia], onde estudou e jogava futebol com os outros. Era um aluno normal e até muito bom aluno. Dali vai para Pemba, onde cumpriu o Serviço Militar na Marinha", relata João Feijó.



O pesquisador, que já publicou vários estudos sobre o suposto cabecilha dos terroristas, acrescenta que Ibn Omar também terá sido comerciante. "Depois da Marinha, foi trabalhar para um indivíduo tanzaniano e envolveu-se no comércio transfronteiriço. E entrou em contacto com ideias mais radicais e aderiu ao movimento que iniciou esta guerra", sublinha.

Outras movimentações suspeitas

Em Agosto de 2021, o Departamento de Estado norte-americano referiu num comunicado que, além dos ataques em Cabo Delgado, Ibn Omar liderou também incursões à região de Mtwara, na Tanzânia. 

Por vários anos, as autoridades moçambicanas disseram que o terrorismo em Cabo Delgado era protagonizado por "indivíduos sem rosto". Agora, será que com esta identificação clara da suposta figura por trás da violência, o país poderá estar mais perto de estancar o fenómeno?

Mohamed Yassine acredita que sim. O especialista em terrorismo internacional diz que a identificação de Ibn Omar pode ser um passo importante para o conhecimento das reais motivações dos grupos armados, que já mataram cerca de quatro mil pessoas em ataques a aldeias e vilas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa. A partir daí, sugere Mohamed Yassine, abre-se um caminho para o diálogo.

"Quando se percebe com quem se pode lidar, torma-se mais simples encontrar mecanismos de aproximação para acabar com o problema. Se hoje o Governo assume que, afinal de contas, esse problema é liderado por esta pessoa, acredito que está mais próximo de dar o passo seguinte, que é buscar formas de chegar a essa pessoa para entender a motivação", diz Mohamed Yassine.


A avaliar pelas complexidades no combate militar contra os terroristas e pela aparente aceitação popular do grupo em algumas comunidades, o pesquisador João Feijó também concorda com a ideia de diálogo.

"As evidências mostram que é uma guerra difícil de vencer. É uma guerra de guerrilha em que o guerrilheiro está nas matas. Tem uma geografia muito complicada e é óbvio que tem apoio de alguns sectores da população”, comenta.

Diálogo contido

O investigador acrescenta que o desafio agora passa por identificar possíveis interlocutores para a efectivação das referidas negociações.

"É preciso identificar quais as exigências destes indivíduos e começar por aquelas exigências mais simples, e lentamente fazerem-se acordos", sugere.

A oposição moçambicana também defende a abertura de uma via de diálogo, embora o Governo prossiga os combates e os terroristas continuem a actuar nas províncias mais a norte do país.

O especialista em terrorismo internacional, Mohamed Yassine, adverte, no entanto, que o diálogo não deve ser ‘a todo custo'. "A causa nunca deve ser a mudança de governação ou aspectos que tocam na soberania de um Estado. Não pode ser a independência da província de Cabo Delgado, por exemplo. Qualquer outro assunto se pode discutir", ultima.

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