Especialistas acreditam que anúncio
do Presidente Nyusi sobre o nome por trás do grupo terrorista que actua em Cabo
Delgado é um passo no combate ao fenómeno e recomendam abertura para um diálogo
contido.
O Presidente da República de
Moçambique, Filipe Nyusi, mencionou na semana passada o nome de Ibn Omar como o
líder do grupo de terroristas que protagonizam ataques armados na
região norte do país. Não o fez pela primeira vez. No ano passado, Nyusi já
tinha citado esse mesmo nome. E, antes disso, os Estados Unidos também já
tinham identificado Ibn Omar como o responsável por acções de terrorismo em
Moçambique.
Segundo Filipe Nyusi, o suposto
líder dos terroristas é um cidadão moçambicano. E "Ibn Omar" é apenas
um dos nomes pelos quais é conhecido.
João Feijó, investigador do
Observatório do Meio Rural, diz que se trata de um indivíduo bastante conhecido
na região de Cabo Delgado e que, inclusivamente, terá passado pelas Forças
Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
"É natural de Palma, mas
também já ouvi que é de Mocímboa [da Praia], não é propriamente consensual.
Cresceu em Mocímboa [da Praia], onde estudou e jogava futebol com os outros.
Era um aluno normal e até muito bom aluno. Dali vai para Pemba, onde cumpriu o
Serviço Militar na Marinha", relata João Feijó.
O pesquisador, que já publicou
vários estudos sobre o suposto cabecilha dos terroristas, acrescenta que Ibn
Omar também terá sido comerciante. "Depois da Marinha, foi trabalhar para
um indivíduo tanzaniano e envolveu-se no comércio transfronteiriço. E entrou em
contacto com ideias mais radicais e aderiu ao movimento que iniciou esta
guerra", sublinha.
Outras movimentações suspeitas
Em Agosto de 2021, o Departamento
de Estado norte-americano referiu num comunicado que, além dos ataques em
Cabo Delgado, Ibn Omar liderou também incursões à região de Mtwara, na
Tanzânia.
Por vários anos, as autoridades
moçambicanas disseram que o terrorismo em Cabo Delgado era protagonizado por
"indivíduos sem rosto". Agora, será que com esta identificação clara
da suposta figura por trás da violência, o país poderá estar mais perto de
estancar o fenómeno?
Mohamed Yassine acredita que sim.
O especialista em terrorismo internacional diz que a identificação de Ibn Omar
pode ser um passo importante para o conhecimento das reais motivações dos
grupos armados, que já mataram cerca de quatro mil pessoas em ataques a aldeias
e vilas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa. A partir daí, sugere
Mohamed Yassine, abre-se um caminho para o diálogo.
"Quando se percebe com quem
se pode lidar, torma-se mais simples encontrar mecanismos de aproximação para
acabar com o problema. Se hoje o Governo assume que, afinal de contas, esse
problema é liderado por esta pessoa, acredito que está mais próximo de dar o
passo seguinte, que é buscar formas de chegar a essa pessoa para entender a
motivação", diz Mohamed Yassine.
A avaliar pelas complexidades no combate militar contra os terroristas e pela aparente aceitação popular do grupo em algumas comunidades, o pesquisador João Feijó também concorda com a ideia de diálogo.
"As evidências mostram que é
uma guerra difícil de vencer. É uma guerra de guerrilha em que o guerrilheiro
está nas matas. Tem uma geografia muito complicada e é óbvio que tem apoio de
alguns sectores da população”, comenta.
Diálogo contido
O investigador acrescenta que o
desafio agora passa por identificar possíveis interlocutores para a efectivação
das referidas negociações.
"É preciso identificar quais
as exigências destes indivíduos e começar por aquelas exigências mais simples,
e lentamente fazerem-se acordos", sugere.
A oposição moçambicana também
defende a abertura de uma via de diálogo, embora o Governo prossiga os
combates e os terroristas continuem a actuar nas províncias mais
a norte do país.
O especialista em terrorismo
internacional, Mohamed Yassine, adverte, no entanto, que o diálogo não deve ser
‘a todo custo'. "A causa nunca deve ser a mudança de governação ou aspectos
que tocam na soberania de um Estado. Não pode ser a independência da província
de Cabo Delgado, por exemplo. Qualquer outro assunto se pode discutir",
ultima.
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