Ossufo Momade e os dez dias para entrega das listas
“Esse prazo ignorou
a discussão que devia haver sobre o assunto”
No passado dia 21
Julho terminou o prazo de dez dias que já havia sido visto como irreal e que
fora anunciado por Filipe Nyusi depois de encontro com Ossufo Momade, na Beira.
Não foram entregues as listas e, apesar dos risos amarelos para a fotografia, a
verdade ê que, em termos concretos, nada avançou.
O general Ossufo Momade disse ao CANAL DE MOÇAMBIQUE que
o prazo de dez dias foi anunciado pelo Presidente da Republica ignorando que
tinha de haver discussões em relação a alguns conteúdos que culminariam com a
entrega da lista. Fala-se agora de um memorando de entendimento que deverá
ser assinado entre as partes contendo os princípios orientadores do processo.
A assinatura do memorando é apenas uma declaração de intenções, a que se
seguirá a implementação do anunciado. No passado fim-de-semana, a chefe da Liga
Nacional Feminina da Renamo veio a público informar que a Renamo exige que os
seus quadros que já estavam no Exército e que foram afastados compulsivamente
e os que nunca progrediram devem ser reenquadrados com posições equivalentes
às que deviam ocupar se não houvesse a purga. Ossufo Momade diz que não há
nada de novo nessa declaração e acrescenta que isso é que vai ser o espelho
para os processos subsequentes. Eis o que perguntámos e o que coordenador da
Renamo respondeu, numa entrevista, esta semana, em jeito de avaliação do
falhanço do prazo de dez dias em que as listas deviam ser entregues.
Canal de Moçambique
(Canal) - No dia 11 de Julho, o general Ossufo Momade e o Presidente da República
acordaram dez dias para a entrega das listas do efectivo da Renamo que iria ser
reintegrado. Esse prazo terminou no dia 22 de Julho, e publicamente nada foi
dito. Já foram entregues as listas ou não?
Ossufo Momade - Não. Ainda não foram entregues as listas. O
que está acontecer é que nós, quando conversamos no dia 11, havíamos combinado
para que pudéssemos elaborar um memorando de entendimento, e é esse memorando
de entendimento que deve ser assinado. Acontece que a elaboração desse
memorando de entendimento ainda não terminou.
Canal - O que vai
dizer esse memorando de entendimento?
Ossufo Momade - Esse memorando está a ser feito e vai
debruçar-se em relação ao assunto da reintegração e desmilitarização. Esse memorando
de entendimento vai ser assinando pelo Presidente da República e o coordenador
da Comissão Politica da Renamo. Depois da assinatura desse memorando de
entendimento é que haverá um compromisso para a entrega das listas.
Canal - Mas
pareceu-nos que o prazo de dez dias que havia sido estabelecido partiu de uma
base razoável. Então significa que esse prazo não contou para nada.
Ossufo Momade - Trata-se de uma negociação, por isso
estamos a tentar encontrar uma plataforma de estarmos de acordo e elaborarmos
um documento consistente para que as coisas sejam muito claras e não haja
confusão na sua interpretação ou implementação.
Canal - No passado
fim-de-semana, a chefe da Liga Nacional Feminina disse que a Renamo - aliás, é
uma questão sobre a qual os outros dirigentes da Renamo já tinha falado
anteriormente - exige, primeiro, que aqueles que foram compulsivamente
despromovidos (ou nunca promovidos) das Forças Armadas sejam integrados, e só
depois será entregue a lista das "forças residuais". Parece que isso
criou uma má interpretação e, em alguns círculos, foi visto como uma
nova exigência.
Ossufo Momade - Não se trata de uma nova exigência. Não
pode ser nova exigência. Isso sempre esteve claro. É preciso entender bem. Nós
queremos que aqueles que estão dentro das Forças Armadas de Defesa de Moçambique,
não sei se me faço entender, os que estão dentro das Forças Armadas de Defesa
de Moçambique, esses devem ser reenquadrados. Esse processo será um espelho
para nós avaliarmos se há, ou não, seriedade nesse assunto. Se há, ou não,
sinais de boa-fé nisso. Só depois de esse processo terminar é que vamos
integrar as forças residuais da Renamo na Policia da República de Moçambique
e nas várias unidades.
Canal - Há uma
pergunta que tenho de lhe fazer. Dentro desse programa, quando está prevista a
entrega das armas?
Ossufo Momade - Eu já respondi a essa pergunta na última
entrevista ao CANAL DE MOÇAMBIQUE e partilhei essa visão com o chefe do Estado
na última reunião e repeti à imprensa quando ia sair do encontro. A entrega das
armas ê a última de todas as etapas. Para nós, o mais importante não é a
entrega das armas, é aonde e a quem vamos entregar as armas. Nós não vamos
entregar as armas a uma instituição ou grupo de pessoas que depois vai usá-las
contra nós. Nós também pensamos. Queremos entregar as armas a uma instituição
credível, e não ao partido Frelimo. E uma instituição de que nós também façamos
parte. Está a entender, não é?
Canal - Parece-nos
que a forma eleitoralista como o processo está a ser conduzido visa apenas a retirada
de armas que estão nas mãos da Renamo, dai esses prazos irreais, de dez dias,
por exemplo.
Ossufo Momade – Estamos a lidar com a segurança de
pessoas. E preciso que a Renamo esteja lá e com voz activa, quando formos
entregar as armas. É muito importante que haja garantia de segurança de que nós
vamos entregar as armas a uma instituição credível, que não vai pegar nessas
armas e virar o cano contra nós. Se o objectivo é entregar as armas, então
temos de nos submeter às etapas. É complicado, mas temos de seguir as etapas,
porque não queremos chorar depois. Não sei se me faço entender. Primeiro, o enquadramento
dos oficiais da Renamo nas Forças Armadas de Moçambique, aqueles que, desde 94,
nunca foram promovidos, aqueles que nunca tiveram progressão. São esses que
nós queremos que sejam enquadrados em vários níveis nas chefias das Forças
Armadas de Defesa de Moçambique. Só depois deste processo é que vamos indicar
as forças que estão connosco, para a Policia de Moçambique a vários níveis.
Depois disso, vamos à desmobilização, esses que vão para a desmobilização e
integração na vida social É quando vamos entregar o armamento. Vamos entregar
o armamento quando os nossos também estiverem lá.
Canal - Como é que
ficou a questão dos Serviços Secretos, o SISE? Foi ventilado que havia uma
grande resistência, senão mesmo recusa, para que sejam indicados oficiais da
Renamo. Como ficou essa questão?
Ossufo Momade – Nós insistimos que devemos fazer parte
do SISE. Todos sabemos que é o SISE que planeia essas mortes que acontecem
neste pais contra membros da oposição, muito mais da Renamo, e personalidades
da sociedade civil. Então, se não estivermos lá, essas reuniões para emboscar e
assassinar vão continuar.
Canal - Vê o Governo
na posição de "abrir mão” do SISE?
Ossufo Momade - Isso é muito simples. O Governo é que tem
que provar que, de facto, quer a reconciliação nacional, e não a Renamo. A
Renamo já fez a sua parte e mostrou que está interessada em continuar com armas.
As armas são um instrumento de defesa. Qual é o receio que a Frelimo tem de
ter membros da Renamo no SISE. Se estamos a tratar da reconciliação nacional, é
certo que os membros da Renamo são cidadãos nacionais. Não há nenhuma
confiança com este SISE. Se a Renamo não estiver lá, nada terá sido feito.
Canal - Qual é
o efectivo das "forças residuais"?
Ossufo Momade - [Risos] É prematuro, na medida em que
temos de ter sigilo. Isso vai ser feito na altura própria.[Risos]
Canal - Senhor
general, quando é que a Renamo prevê que este processo termine? Continuam
a acreditar que o processo militar vai ser concluído antes das eleições?
Ossnfo Momade - Há um documento em que as duas partes
estão a trabalhar. E nós queremos que, dentro de dias, este documento esteja
pronto, para que seja assinado e, a partir daí, começamos logo com os outros
processos.
Canal - O prazo de
Outubro continua válido?
Ossufo Momade - Penso que sim, porque, naquele dia, foi
o chefe do Estado que disse que daí a dez dias, mas sem contar que haveria o
processo de discussão em relação â alteração desse documento. Mas nós pensamos
que o documento vai ter duas assinaturas dentro de dias. Queremos que o
processo tenha pernas para andar, haja responsabilidade nas duas partes, para
que cheguemos até Outubro com todo o processo concluído.
Canal - Mudando de
assunto. Como é que está o processo para selecção do candidato a
cabeça-de-lista da Renamo para o Conselho Municipal da Beira?
Ossufo Momade - Já foi apresentado, há dias, a nível
interno. Se não foi no sábado, foi no domingo. Foi apresentado o Dr. Manuel
Bissopo, que é o actual secretário-gerai da Renamo. Foi uma apresentação
interna, depois vai-se organizar para uma apresentação pública.
Canal - Ele continua
como secretário-geral sendo cabeça-de-lista?
Ossufo Momade - Continua, sim. Ele é nosso
secretário-geral, por enquanto.
CANAL
DE MOÇAMBIQUE – 01.08.2018
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