Projeto da organização Save the Children na província de
Manica já resgatou 153 meninas entre os 15 e os 17 anos de uniões prematuras. Raparigas
recebem ferramentas para se sustentarem financeiramente.
Pelo menos 17 de
153 meninas raparigas resgatadas de casamentos prematuros na província de
Manica, em Moçambique, receberam "kits de negócio" para poderem dar
os seus primeiros passos profissionais e reduzirem a sua dependência de
terceiros. O projeto da organização Save the Children envolve autoridades
locais e organizações da sociedade civil no resgate de raparigas em uniões
prematuras.
Hirondina da
Conceição, uma das beneficiárias, casou aos 14 anos e tem um filho de um ano e
oito meses. "Eu estava a frequentar a 8ª classe. Fiquei grávida, era tempo
de coronavírus, e a minha mãe ficou muito zangada. Esse moço [pai] também era
estudante", conta.
Com a ajuda da
Save the Children, Hirondina conseguiu voltar à escola e trabalha agora num
projeto de criação e venda de frangos. "O negócio está a ajudar, dá-me
lucro para comprar fralda para a criança, iogurte, caril. Está a crescer a
atividade: comecei com 220 frangos. Agora tenho 290", afirma.
O objectivo principal do projeto, segundo a diretora de
programas da Save the Children em Manica, Ana Dulce Guisado, é que as crianças
retomem a escola mas, ao mesmo tempo, tenham também uma fonte de rendimento.
"Com o
processo de resgate, constatámos que várias dessas raparigas não conseguem
suster-se economicamente. Por isso, começámos um programa de apoio em
atividades económicas para que essas raparigas - que muitas vezes já têm filhos
- possam sustentar as suas famílias e ter habilidade de continuar com os
estudos".
Histórias de sucesso
Biute Felisberto, aluna da 9ª classe em Nhamagua, não estava
preparada para assumir um lar com uma união prematura aos 14 anos. Hoje, com
uma bebé de cinco meses, estuda e também trabalha num projeto de criação de
frangos, com o apoio da Save the Children. "Começámos com 440 frangos. Com
o lucro comprei roupa para a bebé e cadernos e uniforme para eu ir à escola.
Gostaria de ser uma enfermeira", conta.
Às outras meninas, deixa um conselho: "Não casem cedo.
Se casarem cedo, vão ser prejudicadas e deixar de estudar para assegurar o
casamento".
Melita Deniasse de 15 anos, também foi resgatada de um
casamento prematuro. Vai começar a vender capulanas e artigos de roupa usada e
retomou a escola recentemente. Está na 6ª classe.
"Fui tirada do lar para dar continuidade aos estudos,
até chegar essa oportunidade de ter o apoio em financiamento de kit de negócio.
Tive um kit de capulanas, chinelos e produtos de primeira necessidade. Eles
disseram-me para não ser casada enquanto criança. O negócio está a evoluir e já
estou a desenvolver. Os estudos também estão a correr bem. O meu sonho é
ser professora e ensinar as raparigas a não casar cedo", afirma.
Para Tendai Madriza, líder comunitário de Malimanau, em
Nhamagua, distrito de Macossa, os casos de casamentos prematuros estão a
diminuir graças a iniciativas como a da Save The Children. "Havia muitos
casos aqui no distrito, mas a situação está a normalizar", garante.
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