A maior lenda da história do futebol, Edson Arantes do
Nascimento, mais conhecido como Pelé, foi um dos pioneiros na modalidade.
Morreu ontem em São Paulo aos 82 anos, após uma batalha contra o cancro.
Nasceu com a bola a seus pés. Cada movimento, cada passe, cada golo era especial. Pelé impressionava os adeptos com a sua agilidade, técnica e paixão pelo jogo.
No livro de aniversário da FIFA de 1904-1984, Pelé é
aclamado como o jogador que fez do futebol uma forma de arte. A Federação
Internacional de Futebol também se refere ao avançado brasileiro como o
Futebolista Mundial do Século, enquanto o Comité Olímpico Internacional o
considera o maior desportista do século passado. Pelé era o rei do futebol.
Edson Arantes do Nascimento nasceu a 23 de outubro de 1940,
em Três Corações, Brasil, e recebeu o nome do inventor americano Thomas Alva
Edison. A sua alcunha, porém, permanecerá para sempre um mistério, mesmo para o
próprio. A teoria mais comum é que quando era criança, o jogador era fã do
guarda-redes da equipa do pai chamado "Bilé", mas pronunciou-o mal
como "Pilé".
Carreira internacional
Em 1956, Pelé assinou contrato com o Santos e marcou contra
o St. André logo na estreia no campeonato, quando tinha 15 anos. Não demorou
muito até ser convocado para a seleção brasileira. Com apenas 16 anos e 257
dias, fez a sua estreia internacional, numa derrota por 2-1 frente à Argentina.
Marcou o único golo do Brasil.
Um ano mais tarde, no Campeonato do Mundo na Suécia, Pelé
fez parte do plantel, embora estivesse no banco no início. Mas, depois, o
"pequeno mágico" marcou seis golos em quatro jogos, ajudando o Brasil
a conquistar o título. Na final contra os anfitriões, Pelé fez uma exibição
brilhante, cheia de truques futebolísticos. Nascia assim uma estrela
internacional.
Na sua cidade natal, Pelé foi adorado como nenhum outro jogador de futebol desde o início da sua carreira. O Governo brasileiro chegou a declará-lo um tesouro nacional, quando o jogador tinha apenas 20 anos de idade, para o impedir de se transferir para o estrangeiro. Quando Pelé se aventurou além fronteiras, foi acolhido como um chefe de Estado. No Campeonato do Mundo de 1962 no Chile, no entanto, o avançado sofreu um revés. O Brasil defendeu o seu título, mas o novo herói lesionou-se no segundo jogo da fase de grupos.
Pelé acabaria por ajudar o Brasil a conquistar o terceiro
título em 1970 no México. Um ano mais tarde, o jogador fez a sua 92ª aparição
internacional perante 180.000 adeptos no icónico Estádio Maracanã do Rio de
Janeiro. Foi a última contribuição de Pelé para a seleção canarinha. Muitos
consideraram a sua reforma internacional prematura, considerando que Pelé tinha
apenas 30 anos na altura. Mas com 77 golos e um estilo único, ninguém podia
duvidar do seu empenho.
Reforma prematura
Ainda hoje, as razões que levaram à prematura reforma de
Pelé continuam pouco claras. Será que foi o resultado de uma disputa que
envolveu João Havelange, ex-presidente da FIFA? Mais tarde, Pelé citou razões
políticas, afirmando que não queria apoiar a junta militar do Brasil. Se se
opunha realmente à ditadura ou se tinha boas ligações com ministros,
continua a ser um enigma na vida de Pelé.
O avançado continuou a sua carreira de jogador no campeonato
brasileiro. Não se sabe exatamente quantos jogos e golos obteve para o Santos.
Oficialmente, porém, o seu recorde é de 1.088 golos em 1.114 jogos.
O que também permanece incerto é quando marcou o seu 1.000º
golo. Supunha-se que o tivesse marcado com um penalty num jogo contra o Vasco
da Gama e todo o Brasil celebrou este feito em 19 de novembro de 1969 - até os
sinos da igreja tocaram. Mas pesquisas posteriores indicam que este golo foi na
verdade o seu 1.002º golo.
New York Cosmos e futebol americano
Em 1975, Pelé assinou um contrato com o New York Cosmos, na
então pouco conhecida Liga de Futebol Americano. O motivo? Um amigo roubou-lhe
todos os bens e precisava de dinheiro. Em Nova Iorque, Pelé ganhou milhões de
dólares por ano - o montante contratual mais elevado na altura.
Mas para além dos incentivos financeiros, Pelé tornou-se
também um pioneiro do futebol nos Estados Unidos. Juntamente com o capitão
campeão da Alemanha Ocidental em 1974, Franz Beckenbauer, Pelé ajudou a
popularizar o desporto nos EUA. Em 1977, depois de ter conduzido o Cosmos a um
título da Taça de Futebol, Pelé pendurou definitivamente as chuteiras.
Ainda hoje, Pelé é considerado o avançado mais completo da
história do futebol, apenas comparável a outro jogador: o falecido Diego
Maradona, da Argentina. O número 10 brasileiro era conhecido pela sua natureza
intuitiva relativamente aos movimentos dos adversários.
Embaixador da UNESCO e ministro
Terminada a carreira como jogador, Pelé passou a ocupar uma
série de cargos, inclusive como embaixador da Boa Vontade da UNESCO. Também foi
ministro extraordinário do Desporto do Brasil, cargo que utilizava para tentar
combater a corrupção no futebol do país.
Também teve uma empresa no setor televisivo, publicou
autobiografias, participou em filmes e recebeu uma série de prémios dos maiores
meios de comunicação social e desportivos do mundo.
"Todas as crianças do mundo querem jogar futebol como
Pelé - é por isso que assumo a responsabilidade de mostrar como ser não só um
bom futebolista, mas também um bom homem", disse uma vez.
Saúde e vida pessoal
Nos últimos anos, Pelé enfrentou vários problemas de saúde,
tendo sido operado à anca em 2012, além de ter enfrentado uma infecção do tracto
urinário, uma cirurgia para remover pedras nos rins e uma batalha contra o
cancro. Estava internado num hospital em São Paulo desde 29 de
novembro.
Foi casado três vezes e teve vários filhos. O mundo
lembrar-se-á para sempre de Pelé como o rei do futebol.
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