O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, visitou Bamako. Anunciou um reforço da cooperação militar e criticou o "neocolonialismo" ocidental.
Sergei Lavrov chegou à capital do Mali na segunda-feira à noite para uma visita oficial de algumas horas ao país africano. Recordou a ajuda militar que Moscovo já forneceu ao país e prometeu mais apoios.
"Vamos planear etapas adicionais no campo da educação,
através de instituições militares de ensino superior, e no campo do
fornecimento de armas e equipamentos militares", anunciou Lavrov esta
terça-feira, sem avançar pormenores.
O chefe da diplomacia russa prometeu um maior envolvimento
russo no país, incluindo com o envio de pessoal militar. Criticou ainda as
"abordagens neocolonialista" dos países ocidentais.
A visita de Lavrov ao Mali, assolado pela violência
jihadista e por uma profunda crise em vários sectores, é o culminar de uma
aproximação entre os russos e os militares malianos, que, em 2021, romperam a
cooperação militar com a França e os seus parceiros.
Segundo as autoridades malianas, esta é uma visita
"especial" - é a primeira vez na história do país que um chefe da
diplomacia russa visita Bamako. A deslocação "materializa a vontade
firme" dos Presidentes Assimi Goïta e Vladimir Putin "de dar um novo
impulso" à sua cooperação nos domínios da defesa e da segurança, bem
como a nível económico, afirmou o ministro maliano das Relações Exteriores,
Abdoulaye Diop.
Uma cooperação antiga
Foi após a proclamação da independência, a 22 de Setembro de
1960, que o Mali estabeleceu os seus primeiros contactos com a Rússia nos
domínios da cooperação económica, social e cultural.
Mas os dois países também estabeleceram contratos nos
sectores da defesa e segurança, explica à DW a escritora Daouda Teketé.
"Após a partida de último grupo de tropas francesas do
Mali, a 21 de Fevereiro de 1961, o Governo do Mali enviou uma delegação a
Moscovo, composta por Ousmane Bah e pelo general Abdoulaye Soumaré. Foi neste
dia que foram assinados os primeiros acordos entre o Mali e a União
Soviética", disse.
Segundo Teketé, a cooperação permitiu que o Exército maliano
fosse equipado com armas pesadas, aviões de combate e "tudo o que o
primeiro Presidente da República do Mali, Modibo Keïta, deixou como
legado" no campo militar.
A "onda russa"
Durante o mandato do Presidente Ibrahim Boubacar Keïta, os
últimos acordos militares foram assinados entre o Mali e a Rússia, uma vez que
a União Soviética já não existia. Foram esses acordos que permitiram ao
Exército maliano reequipar-se com, entre outras coisas, radares ou aviões de
combate da Rússia.
Segundo Alexis Kalembry, jornalista e diretor de publicação
Mali Tribunes, num mundo que está mais uma vez dividido, o Mali tem todo o
interesse em escolher o campo russo.
"O mundo está a polarizar-se novamente. Poderíamos ser
tentados a dizer que a economia tinha a tendência para apagar ideologias, mas
com o conflito russo-ucraniano, cada um é obrigado a reposicionar-se. Assim, a
ideologia está a voltar e cada vez mais a Rússia está a tornar-se um pólo em
torno do qual todos aqueles que veem o mundo de forma diferente estão a
agrupar-se. Penso que esta é uma onda sobre a qual o Mali pode surfar".
Cooperação militar
A 25 de Junho de 2019, a Rússia e o Mali concluíram um
acordo de cooperação militar à margem do fórum do Exército de 2019, organizado
perto de Moscovo, assinado pelos Ministros da Defesa dos dois países, Sergei
Shoigu e Ibrahim Dahirou Dembélé. O acordo previa a cooperação militar e de
segurança.
Em Novembro de 2022, à margem da visita do ministro da Segurança do Mali, Daoud Aly Mohammedine, a Moscovo, o Mali e a Rússia assinaram um acordo de cooperação em matéria de segurança, inteligência, gestão de riscos e catástrofes, combate ao narcotráfico e formação.
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