Congresso Nacional Africano (ANC) decidiu excluir Cyril
Ramaphosa das conversações sobre o futuro da liderança do partido. Parlamento
sul-africano debate, esta terça-feira, inquérito sobre escândalo financeiro.
"Foi decidido que [Cyril Ramaphosa] não deveria estar na reunião", referiu em conferência de imprensa, esta segunda-feira (05.12), o porta-voz do Congresso Nacional Africano (ANC), Pule Mabe, no início da reunião que decorre no sul da capital económica do país.
O presidente do partido, Cyril Ramaphosa, saiu da reunião do
comité executivo nacional, logo após o seu início na manhã dsta segunda-feira,
em Nasrec, o mesmo centro de conferências onde ambiciona a reeleição na
liderança do partido no congresso nacional eletivo do partido agendado para entre
16 e 20 deste mês.
A reeleição na liderança do ANC permitirá recandidatar-se à
presidência da África do Sul em 2024.
"Podemos assegurar-vos que o ANC é capaz de gerir isto;
fizemos isso no passado", adiantou o porta-voz do antigo movimento de
libertação africano, referindo-se à crise no seio do partido governante.
No seu relatório,
divulgado na quarta-feira, uma comissão parlamentar concluiu que o chefe de
Estado pode ter violado leis anticorrupção, roubando e escondendo dinheiro em
negócios na sua quinta agrícola Phala Phala, em 2020, situada em Bela-Bela,
província de Limpopo.
Acusações contra Ramaphosa
As alegações contra o Presidente da República e líder do
ANC, partiram do antigo chefe dos serviços secretos sul-africanos Arthur Fraser
(2016-2018) e diretor dos serviços prisionais (2018-2021), alegando na acusação
que o montante em causa é "aproximadamente entre 4 milhões e 8 milhões de
dólares", entre 3,78 milhões e 7,57 milhões de euros.
Fraser alegou que um conselheiro do Presidente transportou
ilegalmente avultadas somas de dólares para a África do Sul desde a Arábia
Saudita, Egito, Marrocos e Guiné Equatorial, segundo o relatório parlamentar a
que a Lusa teve acesso.
O Presidente
sul-africano negou as alegações, sustentando que o dinheiro é produto da venda
de um número não especificado de búfalos a um empresário sudanês no montante de
580.000 dólares (549 mil euros), salientou.
A comissão parlamentar levantou questões sobre a origem do dinheiro
e porque foi escondido das autoridades financeiras, apontando ainda um
potencial conflito entre os negócios do presidente e os interesses do Estado.
O relatório de um painel independente liderado pelo juiz
Sandile Ngcobo concluiu que pode haver um caso de destituição do Presidente.
O advogado de Cyril Ramaphosa indicou que o chefe de Estado
vai contestar o relatório parlamentar no Tribunal Constitucional, a mais alta
instância judicial do país.
ANC deve "votar contra"
O comité nacional de trabalho do ANC decidiu no fim de
semana que os deputados do partido na Assembleia Nacional "devem ser
instruídos a votar contra o relatório" quando for debatido e votado na
terça-feira, segundo a imprensa sul-africana.
Os deputados na Assembleia Nacional, onde o ANC detém a
maioria, devem debater o relatório da comissão parlamentar na terça-feira, e
votar também se o processo de destituição do Presidente deve avançar.
Os partidos da oposição e opositores internos de Ramaphosa
no ANC pediram a sua demissão.
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