Em declarações, no fim de semana,
o chefe de Estado da RDC, Felix Tshisekedi, disse ainda que os ruandeses são
"irmãos" que "precisam [de ajuda] para se libertarem".
O Presidente da República Democrática
do Congo (RDC), Felix Tshisekedi, designou o homólogo ruandês, Paul Kagame, um
"inimigo", no contexto das tensões diplomáticas causadas pela
ofensiva do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) no leste do país.
"Não vale a pena olhar para
os ruandeses como inimigos. É o regime ruandês, com Paul Kagame à cabeça,
que é o inimigo da RDCongo. Os ruandeses e ruandesas são nossos irmãos e irmãs,
e, para além disso, precisam da nossa ajuda porque estão amordaçados, precisam
da nossa ajuda para se libertarem", afirmou o chefe de Estado congolês num
discurso proferido, durante o fim de semana, na sede da União Africana, em Adis
Abeba, e divulgado pela Rádio Okapi.
"Eles [os ruandeses] não são
culpados daquilo que lhes é imposto pelos seus. Portanto, não os vejam como
inimigos, mas como irmãos, que precisam da nossa solidariedade para se
libertarem e libertarem África deste tipo de dirigentes retrógrados, que ainda
utilizam os meios dos anos 60 e 70, ao passo que África decidiu já colocar um
ponto final ao barulho das armas", prosseguiu Tshisekedi.
O chefe de Estado da RDC
acrescentou que, se "isso ainda não aconteceu, é precisamente por causa de
dirigentes como Paul Kagamé, que sente orgulho por ser um causador de guerra,
de ser um especialista da guerra".
"Ele tem orgulho. Eu, no seu
lugar, esconder-me-ia, teria vergonha de assumir que semeava a morte e a
desolação. É vergonhoso, diria mesmo, diabólico", concluiu o Presidente da
RDCongo.
Troca de acusações
As declarações de Tshisekedi
respondem às declarações de Kagame na semana passada, que acusou o seu homólogo
congolês de fomentar uma crise de segurança no leste da RDCongo, com a
finalidade única de sustentar um argumento para adiar as eleições agendadas
para 2023.
Segundo o Presidente ruandês, o
conflito entre a RDCongo e o movimento rebelde de etnia tutsi M23 "seria
facilmente resolvido se não houvesse nenhum país com eleições agendadas para o
próximo ano e não estivesse a tentar criar uma emergência para as adiar".
Kagame também acusou Kinshasa de estar a promover uma guerra por procuração
ao patrocinar a ofensiva do grupo armado Forças Democráticas para a Libertação
do Ruanda (FDLR) - composto por extremistas hutus, alguns responsáveis pelo
genocídio ruandês - no Ruanda.
"É lamentável que se tenha
tornado conveniente que todos os problemas recaiam sobre os ombros do Ruanda. A
culpa é sempre nossa", afirmou o Presidente ruandês.
"Estou a começar a acreditar
em algo em que nunca acreditei. Mas já passou tanto tempo que não posso evitar.
Alguém, algures, quer que este problema exista para sempre porque há demasiadas
coisas em jogo", acusou, para em seguida criticar a "narrativa desde
1994", segundo a qual "os perpetradores e as vítimas (do genocídio no
Ruanda) são os mesmos".
Esta retórica de guerra parece deixar pouca margem aos esforços da
mediação angolana e queniana sob os auspícios da Conferência Internacional
sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), liderada pelo chefe de Estado
angolano, João Lourenço, e pelo ex-Presidente queniano Uhuru Kenyatta, que
reuniu em Nairobi 60 grupos rebeldes para a terceira ronda de negociações de
paz na RDCongo, que hoje se conclui.
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