A RENAMO diz-se chocada com as imagens de supostos militares sul-africanos a queimar cadáveres. O partido vê nas imagens atos de "crimes de guerra" e diz que o Presidente Nyusi perdeu o controlo da situação no terreno.
O principal partido de oposição moçambicana acusa o Presidente da República, Filipe Nyusi, de ter perdido o controlo da situação em Cabo Delgado, deixando a soberania do país nas mãos das forças estrangeiras que combatem o terrorismo na província nortenha.
O porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), José
Manteigas, diz ter ficado chocado com as imagens que circulam nas
redes sociais, que mostram alegadamente tropas estrangeiras a
queimar corpos de supostos terroristas numa fogueira.
DW África: Como
reage a RENAMO aos vídeos que circulam nas redes sociais de supostos
terroristas queimados alegadamente por militares estrangeiros em Cabo Delgado?
José Manteigas
(JM): O nosso primeiro pronunciamento é de repúdio e lamentação. Acima de
tudo, é de muita indignação. Nós, como partido, somos contra qualquer tipo de
violência. Não podemos ficar impávidos perante uma violência tão cruel como
esta.
Por outro lado,
começamos a ficar intrigados sobre quem está a praticar a maior crueldade e a
matar mais em Cabo Delgado? Serão os terroristas ou as forças que
"legalmente" [os combatem]. Digo "legalmente" entre aspas
porque o Presidente da República, Filipe Nyusi, contratou a presença
da Missão Militar da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
em Moçambique (SAMIM) e das forças ruandesas à revelia da Assembleia
da República e dos moçambicanos. E nós condenamos isso,
justamente porque receávamos essas atitudes descontroladas de forças que estão
no país, que ninguém sabe como entraram e quais são os acordos que foram
celebrados para a sua presença em Moçambique.
DW África: A
comprovar-se a autenticidade destas imagens de Cabo Delgado, estaríamos aqui
perante crimes de guerra?
JM: Claramente.
E os terroristas estão a atuar no mesmo 'modus operandi': a esquartejar e
decapitar pessoas. Atirar cadáveres ao fogo não foge a este método dos
terroristas. Isto cria uma situação de medo, de grande insegurança,
e sobretudo de grande desconfiança em relação a qualquer força que esteja
a operar naquele teatro.
DW África: Mas o
que pode explicar militares a cometer este tipo de atrocidades?
JM: Eles estão a sentir-se como se estivessem numa
pátria sem dono. As Forças de Defesa e Segurança moçambicanas não estão no
comando. Eles já nos retiraram a
soberania. Aliás, lembre-se que, há uns tempos, quem trazia informações
relevantes sobre o terrorismo em Cabo Delgado era o Ruanda, na pessoa do seu
Presidente, Paul Kagame, sob o olhar impávido e de pequenez de Moçambique e do
seu Presidente. Moçambique nem sequer tem o poder de comandar essas forças.
DW África: Sendo
assim, a RENAMO acha que era momento para o chefe do Estado, como comandante em
chefe, poder ter algum controlo de todos os militares que estão a atuar em Cabo
Delgado?
JM: Ele
próprio deixou-se manietar. Houve um incidente que chocou o país em que o
Presidente do Ruanda, Paul Kagame, estava a passar por um tapete vermelho
e o próprio Presidente de Moçambique estava ali como um "ajudante do
campo" de Kagame. Portanto, se o próprio chefe de Estado se tornou tão
pequeno perante o seu povo e o seu Estado em relação às forças
estrangeiras, é uma situação de difícil controlo.
DW África: E como
é que se remedia isso?
JM: O chefe
de Estado deve redimir-se e deve colocar essa questão do terrorismo como um
debate nacional, porque o que parece até aqui é que o Presidente da República,
Filipe Nyusi, está a privatizar o [combate ao] terrorismo em Cabo Delgado.
Sem comentários:
Enviar um comentário