Portugal refuta acusações de interferência na crise política da Guiné-Bissau, após declarações de Domingos Simões Pereira. Nega contatos recentes com Sissoco e reitera respeito à ordem constitucional no país africano.
"Volta e meia, por tuta e
meia, o Presidente [Sissoco Embaló] evoca conversas com [o Presidente da
República de Portugal] Marcelo Rebelo de Sousa, com o primeiro-ministro António
Costa e com outras autoridades [portuguesas]. E fá-lo com o intuito de evocar
algum paralelismo com aquilo que acontece em Portugal e que, portanto, se é
normal em Portugal, é normal na Guiné-Bissau", afirmou Simões Pereira.
"Quando (...) as autoridades portuguesas ouvem essa menção
e não fazem questão de denunciar e de se distanciar dessa realidade, tornam-se
cúmplices daquilo que está a acontecer neste momento" na Guiné-Bissau,
acrescentou.
De acordo com Simões Pereira, Umaro Sissoco Embaló invocou uma
suposta conversa com Marcelo Rebelo de Sousa a propósito da sua decisão de
dissolver o parlamento guineense, a pretexto de uma alegada tentativa de golpe
de Estado. Para o presidente do parlamento guineense e do PAIGC, a presença das autoridades
portuguesas na Guiné-Bissau "dá um sinal de avalàquilo que
é a atuação das entidades que vêm recebendo essas autoridades".
"Eu não posso admitir que vivendo esta situação que já é
tida como crónica em termos de instabilidade, Portugal, em vez de contribuir
para o reforço da estabilidade, para a construção de instituições democráticas,
deixe-se usar para este tipo de menções, que realmente nos arrastam",
criticou.
presença das autoridades portuguesas na Guiné-Bissau "dmo
crónica em termos de instabilidade, Portugal, em vez de contribuir para o
reforço da estabilidade, para a construção de instituições democráticas,
deixe-se usar para este tipo de menções, que realmente nos arrastam",
criticou.
Portugal responde
Horas depois, em resposta enviada à agência Lusa, o chefe de
Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que não esteve nem falou com
o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, desde que esteve em Bissau, a meio de novembro.
Esta informação foi enviada à Lusa, em resposta a um pedido de
comentário do Presidente da República sobre a situação na Guiné-Bissau e sobre
as declarações de Domingos Simões Pereira, em que é visado.
"O Presidente da República não esteve, nem falou com o
Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, desde a visita à Guiné-Bissau
no passado dia 16 de novembro de 2023. Tal como o Governo, também não se
pronunciou sobre a situação da Guiné-Bissau até agora", foi a resposta
enviada à Lusa pela assessoria de comunicação da Presidência da República.
Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Bissau entre 15 e 16 de
novembro, juntamente com o primeiro-ministro português, António Costa, a
participar na comemoração oficial dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau.
Instabilidade no país
A Guiné-Bissau vive uma situação de tensão e instabilidade, após
a detenção, em 30 de novembro, do ministro da Economia e Finanças, Suleimane
Seidi, e do secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro, ambos dirigentes
do PAIGC, no âmbito de um processo relacionado com pagamentos a empresários.
Os acontecimentos precipitaram-se com efetivos da Guarda
Nacional a irem buscar os dois governantes às celas da Polícia Judiciária, a
que se seguiram confrontos entre esta força militarizada e efetivos do batalhão
do Palácio Presidencial.
Na segunda-feira (04.12), após uma reunião do Conselho de
Estado, o Presidente Umaro Sissoco Embaló anunciou a decisão de dissolver o
parlamento.
O presidente do parlamento qualificou essa decisão como um golpe
de Estado constitucional, tendo em conta que nos termos da Constituição
guineense a Assembleia Nacional Popular não pode ser dissolvida nos 12 meses
posteriores à sua eleição.
Sem comentários:
Enviar um comentário